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Léia Salazar
Psicóloga. Composta por música e tem um caso infinito com a sétima arte. Adora fotografia e tem verdadeiro fascínio pelas palavras.
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terça-feira, 6 de março de 2012

"Irremedicável"


Ultimamente uma questão tem me incomodado bastante. Aliás, não é mais somente uma questão, é algo que se tornou um fato (e um fato próximo a mim, diga-se de passagem). Okay, vamos ao assunto:
Tenho percebido que a vida humana vem se tornando uma caixinha de remédios. Um amontoado de pílulas...

"Temos para todas as ocasiões! O relacionamento terminou? Teve aquela briga com sua mãe? Estudou muito nesse fim de semana ou não conseguiu se concentrar? Venha, cliente amigo, temos o comprimido sob medida para você!"

Eu sei, claro, que existem casos em que a medicação é realmente necessária. Mas será que para tudo tem que ser assim? O remedinho vai mesmo eliminar o elemento central que ocasiona o desprazer, o sintoma (tenho a impressão que não, hein!)? E por que será então que nossa vida tem se tornado tão "farmacológica"? A praticidade? A rapidez da "solução"?
Penso que esse ponto também tenha influência. De fato, vivemos numa época em que tudo acontece numa velocidade que chega a ser fadigante. A sociedade cobra essa rapidez e não nos dá tempo para que possamos ter momentos de fraqueza.
Mas o fator crucial da história, a meu ver, está na comodidade e talvez até no medo de "cutucar as feridas"
. Dói mexer nos conflitos. Para quê vasculhar lembranças e angústias que estão aparentemente quietas (digo aparentemente porque, pelo meu viés psicanalítico, acredito que esse conteúdo é pulsante, mas não quero me ater a teorias), se eu posso simplesmente me medicar e "viver bem"? Mas será que esse "viver bem" é realmente efetivo?
Essa última pergunta eu faço com base em observações do meu cotidiano. Percebo que as pessoas ser tornam como que escravizadas pelos fármacos, em que se vêem na situação de que somente com o uso de fármacos poder-se-á chegar ao equilíbrio (mesmo com alguns efeitos colaterais). "Mas e daí se esse remédio tira meu apetite sexual?! É só com ele que consigo ficar bem!". Isso mostra como o sofrimento humano pode ser grande e intenso, a ponto de abdicar algo para se sentir melhor. Mas também não consigo ver outra alternativa de alívio efetivo desse sofrimento que não a psicoterapia, a fala, o momento de vasculhar, de mexer no cantinho que mais dói e não simplesmente camuflar.
É importante salvaguardar que existem sim casos em que o uso de fármacos é essencial. Mas acredito que existem casos "irremedicáveis" (permitam-me o neologismo!).

E por essas e por outras que acredito piamente no trabalho de psicoterapia e não desisto desse ideal!
O Homem é biopsicossocial... acho injusto reduzi-lo unicamente ao biológico.

P.S., Não tomei por base nenhuma teoria. São só pensamentos do cotidiano de uma estudante, que podem estar no caminho certo ou completamente equivocados! Isso a troca de ideias com outros estudantes e profissionais e a experiência vão me dizer... rs

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